O poder de colaborar com o futuro do planeta com consciência e desfrutar de um bom vinho.
Por Wallace Neves
Fotos Mauro Marques | Divulgação
Em função da força que a discussão sobre a sustentabilidade ganhou nos últimos anos, hoje nos referimos a ela como um movimento global. O futuro do planeta é uma preocupação urgente que está sendo tratada em vários níveis: governamental, corporativo e, é claro, pessoal. Nós, seres humanos, estamos tomando consciência de nossas ações, tornando-nos mais responsáveis na tomada de decisões. E diante deste chamado, a indústria vitivinícola não ficou para trás. Quando dizemos que algo é sustentável, nos referimos à “qualidade de ser capaz de se manter, sem ajuda externa e sem esgotar os recursos disponíveis”, em três dimensões fundamentais: a ambiental, a econômica e a social. Aplicado à viticultura, isto se traduz em melhorias na maneira como o vinho é feito através da implementação de práticas ecológicas de produção e de manejo dos vinhedos, economicamente viáveis e comprometidas com a comunidade. Como? Por exemplo, desde o manejo do vinhedo, até a gestão de resíduos, dos recursos energéticos e do tipo de embalagem. Na vinha, as atividades de produção têm um impacto real e dependência total dos recursos naturais, da energia solar, de condições climáticas apropriadas, água limpa e potável, e de solos saudáveis.
Uma integração bem-sucedida destes elementos é essencial. Ter abordagens inovadoras que levem à conservação de recursos naturais e biodiversidade, contribuindo para a adaptação às alterações climáticas, gerando oportunidades de crescimento e valorização da vinha, e promovendo a manutenção de bens públicos (qualidade da água, ar e solo, conservação da biodiversidade). Na adega, a produção de vinho tem um impacto bastante relevante no consumo de recursos, nomeadamente ao nível de água, energia e materiais, sendo absolutamente necessário que exista uma monitorização dos consumos e uma consequente otimização dos processos. O grande desafio para atingir uma vantagem competitiva sustentável é garantir o equilíbrio entre um setor vitivinícola economicamente viável com um desempenho ambiental que tenha um impacto positivo na sociedade. Em Portugal, a região pioneira no desenvolvimento sustentável foi o Alentejo. O desafio que se coloca é o de produzir uvas e vinho de qualidade e de forma economicamente viável, ao mesmo tempo que se protege o meio ambiente, melhorando as relações com os colaboradores e vizinhos. O programa segue uma metodologia clássica de melhoria contínua de um sistema estando organizado em três setores distintos (Viticultura, Adega, Viticultura e Adega).
No Brasil, algumas vinícolas já vêm praticando a sustentabilidade em seus vinhedos. Estive conversando com o Cesar Curra, da Viapiana, que se encontra na IP Altos Montes em Flores da Cunha, e uma prática utilizada pelo produtor é o reaproveitamento das águas das chuvas com o intuito de irrigar os vinhedos quando necessário e na limpeza da vinícola. Na safra desse ano, diversas vinícolas utilizaram o TPC (Thermal Pest Control), um processo que elimina fungos, bactérias e insetos à base de ar quente, dispensando o uso de agrotóxicos e pesticidas. Uma outra prática sustentável que já é comum no Brasil é a utilização de garrafas mais leves, as quais reduzem as pegadas de carbono e, portanto, são menos agressivas ao meio ambiente - isso devido à menor quantidade de vinho despejada no solo, reduzindo até 6% a emissão de CO2. A vinícola Salton, localizada em Bento Gonçalves, tem um projeto para tornar a maior referência em sustentabilidade no país. O objetivo é se tornar carbono neutra até 2030. “Ao longo de 110 anos, a Salton recebeu muito da comunidade, muita confiança, então tem um peso sobre uma empresa centenária em retribuir essa confiança. E a questão social e ambiental sempre tem que ser considerada nesta balança que envolve questões econômicas e produtivas. É assim que a gente imagina uma empresa sustentável, com práticas que sejam efetivas”, disse o diretor-presidente da Salton, Maurício Salton. Além das práticas sustentáveis, ainda há tempo para os cultivos orgânicos, biodinâmicos e naturais. Mas isso é um conteúdo para uma próxima matéria. Santé!
Wallace Neves é Sommelier profissional, fundador da @conexaosommelier, professor de Enologia do IGA, professor da Associação Brasileira de Sommeliers e jurado internacional de vinhos, tendo recebido indicações de Melhor Sommelier pelas revistas Veja e Adega e premiado como Melhor Sommelier pela Rio Wine and Food Festival e Melhor Sommelier do Brasil em Vinhos do Alentejo. Tornouse o Embaixador dos Vinhos do Alentejo no Brasil.
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