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Foto do escritorPalmira Ribeiro

Os juros e seus efeitos sobre o mercado

"A inflação está empurrando os banqueiros centrais a empreenderem uma aguda contração monetária”


Por Benito Salomão

Fotos Divulgação

A bolsa de valores brasileira passou, nos últimos anos, por um momento ímpar na sua história. Ao todo, o índice Ibovespa saltou de 48 mil pontos para um ápice de 130 mil pontos entre 2016 e 2020. Pela primeira vez a economia brasileira viu a criação de valor nessa magnitude e em tão curto espaço de tempo. De dois anos para cá, no entanto, este comportamento foi revertido, o Ibovespa perdeu a marca dos 130 mil pontos e passou a oscilar na casa de 109 pontos. Fatores exógenos como a pandemia, a guerra na Europa e a elevação do preço das commodities produzem grandes oscilações no valor dos ativos listados em bolsa.


Ademais, um outro ingrediente tem causado o arrefecimento na trajetória de crescimento nos ativos de renda variável. Trata-se da política monetária. A inflação, que tem acelerado em boa parte do mundo, está empurrando os banqueiros centrais a empreenderem uma aguda contração monetária. No Brasil, no intervalo de 15 meses entre março de 2021 e junho de 2022, a taxa de juros de curto prazo subiu 11,25 pontos base distribuídos em 11 reuniões do Comitê de Política Monetária (COPOM). Ao todo, a Selic saltou de 2% para os atuais 13,25%.


Aqui na Gladius, trabalhamos com a projeção de mais 2 altas de 0,5 pontos base, o que levaria a taxa Selic para 14,25% em 2022. O que a literatura clássica nos ensina é que apertos monetários, caracterizados por juros de curto prazo mais altos, levam a uma redução no valor de ativos (títulos e ações) listados nos mercados financeiros e de capitais. O mecanismo pelo qual esta redução se dá é muito simples e intuitivo. Quando novos papéis que pagam juros maiores são colocados no mercado, um movimento de realocação de portfólio é iniciado. Capitais alocados em renda variável ou em títulos pré-fixados que pagam juros menores migram em direção aos novos títulos que pagam um maior cupom.


Logo, o valor de ações e títulos apresenta depreciação. Este movimento dos BCs foi subestimado no início do surto inflacionário no primeiro semestre de 2021. Muitos creram que a inflação seria um processo temporário e que apertos na taxa de juros seriam dispensáveis. Essa tese, no entanto, foi sepultada.


Um novo erro pode estar sendo cometido neste momento. A crença generalizada de que o ciclo monetário será mais curto do que de fato tende a ser, pode estar subestimando os efeitos da política monetária sobre o mercado de capitais. Antes de pensar quando a Selic começará a cair é preciso pensar em quando ela irá parar de subir e esse horizonte não está claro no presente momento. Casas que estimam Selic em 1 dígito até o final de 2023 podem estar novamente subestimando a inflação e superestimando a capacidade do BC de fazê-la convergir.


Isso não inviabiliza os investimentos em renda variável, o mercado de capitais é democrático e permite a aferição de lucros tanto na alta, quanto na baixa de um determinado ativo. Ademais, momentos de queda no valor das empresas da Bolsa podem redundar em oportunidades para compras de alguns ativos na baixa. Nestes casos, buscar uma assessoria especializada é o caminho mais seguro.

* Benito Salomão é Economista Chefe da Gladius Research e Doutor em Economia pelo PPGE - UFU

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