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O futuro da televisão no Brasil

Sim, todos nós a consumimos todos os dias, mesmo sem identificar claramente sua origem


Rogério Silva

Você, certamente, já ouviu a seguinte frase: “Eu não assisto televisão”. Pode ter sido na roda de amigos, no ambiente de trabalho ou dentro de casa mesmo, vindo de seu filho que já nasceu no universo digital e não compreende como pode haver hora específica para ver um filme, série ou documentário. Não há certos ou errados nisso. Só tome cuidado para não ser contaminado pela bolha. A bolha é o perfil de pessoas com hábitos de consumo semelhantes, com quem você mais convive por absoluta identificação de gostos e poder aquisitivo próximo do seu. A grande realidade social é que públicos classificados nas classes C, D e E enxergam na gratuidade do serviço da TV aberta a forma mais democrática e acessível para consumir notícia e entretenimento.

Pesquisa Kantar Ibope de 2023 revelou que 79% do tempo de vídeo consumido pelo brasileiro foi destinado à TV. Isso reflete uma das miopias da opinião pública, a de que televisão é tão somente aquela caixa na sala de casa com a qual as nossas famílias convivem desde a década de 1950. Essa cena mudou assustadoramente. Alimentadas pelo mercado publicitário, que paga a conta para que a TV aberta chegue de graça até a ponta do consumo, as concessionárias do serviço no país abocanham quase metade do bolo de investimentos em mídia, de acordo com o CENP – Conselho Executivo das NormasPadrão – que mede anualmente essa distribuição. É fato que essa fatia já foi bem mais generosa, orbitando na casa dos 60%. Mas há um aspecto relevante a que é preciso atentar. Televisão deixou de ser apenas caixa de ressonância ou geradora de produtos. É uma indústria de conteúdos. Novelas, séries, realities, cargas generosas de dramaturgia e, claro, notícias. E notícia no meio eletrônico muito bem embalada por análises nos mais diversos segmentos: político e econômico com maior peso, mas também no jornalismo policial, que aborda cobranças efetivas na segurança pública, e ainda em temas mais leves como gastronomia e moda.

E por onde escoa todo este conteúdo? Nas mais diversas plataformas que vão além da tela tradicional da tv: redes sociais, portais, aplicativos, dentre outros meios digitais, com a chancela de um veículo tradicional. A televisão vai muito além da televisão. Sim, todos nós a consumimos todos os dias, mesmo sem identificar claramente sua origem.

E como profissional do meio há quase 33 anos, acredito ter autoridade para fazer uma defesa explícita da televisão regional. É tendência que o público se sinta confortável em dispor dos conteúdos afeitos ao seu dia a dia. O buraco na porta de casa incomoda muito mais que a guerra na Ucrânia. E o buraco dificilmente será explorado numa reportagem em âmbito nacional. É tema do noticiário da cidade, que atende à ligação do telespectador queixoso e cobra do poder público municipal uma solução. Essa proximidade fez com que grandes redes destinassem às emissoras de praça, como são chamadas, janelas cada vez maiores dedicadas a este contato íntimo com o telespectador local. Essa relação vai longe. Tem muita estrada pela frente.


Rogério Silva é administrador e jornalista. Atualmente, ocupa o cargo de Superintendente do Grupo Paranaíba de Comunicação, em Uberlândia

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