“Outras grandes joias do Alentejo são suas uvas indígenas”, destaca.
Por Wallace Neves
Fotos Divulgação
A região do Alentejo está localizada ao sul de Portugal. Compreende praticamente um terço de todo o território português com apenas 5% da população. Sua paisagem é cercada por vinhas, cereais, oliveiras e é comum vermos o famoso porco preto alentejano se alimentando das bolotas enquanto percorremos a região. Seu relevo é constituído praticamente de planícies com poucos acidentes orográficos, não permitindo qualquer influência atlântica.
Porém, os poucos acidentes existentes são o suficiente para influenciar a pluralidade de castas autóctones e internacionais, além das diversidades de estilos dos vinhos alentejanos. Na parte norte teremos a serra de San Mamede, que é a cordilheira mais alta ao sul do Rio Tejo. Ali teremos os vinhos de altitudes, frescos e elegantes. Na denominação de Borba teremos um índice pluviométrico acima da média e níveis inferiores de insolação a média alentejana.
Temos ainda a denominação de Granja-Amareleja, que faz fronteira com a Espanha e possui um dos climas mais áridos de Portugal. A capital da região é a linda e bucólica Évora, que teve um enorme prestígio até meados do século XIX, quando a praga filoxera devastou os vinhedos europeus, e depois com a campanha cerealífera do estado novo, que obrigou os produtores a arrancarem as vinhas e plantar cereais.
Outras grandes joias do Alentejo são suas uvas indígenas. Como as brancas: Antão Vaz, Fernão Pires, Roupero, Arinto e as tintas: Aragonês (que é a mesma tempranillo na Espanha), Trincadeira, Tinta Caiada, Castelão e a tintureira Alicante Bouschet. Em comum, os vinhos do Alentejo oferecem um grande prazer. Vinhos brancos, rosados e tintos, cheios de aromas e sabores, redondos e suaves com capacidades para serem bebidos cedo... sabendo envelhecer com distinção. Devido eu ser o Embaixador dos Vinhos do Alentejo no Brasil, conheço e sou amigo de muitos produtores e enólogos dessa pitoresca região.
A elegância e força do Alto Alentejo
Uma das vinícolas mais charmosas com vinhos incríveis se chama Folha do Meio. Essa vinícola está localizada no parque natural da Serra de San Mamede, a aproximadamente 600 metros de altitude com solos graníticos e de xisto, conferindo características minerais aos vinhos. Para combater as pragas e doenças, a vinícola utiliza uma prática de produção integrada. Utilizando de forma cociente os agrotóxicos, herbicidas e fungicidas, respeitando o equilíbrio de ecossistema.
A vinícola produz uma grande gama de vinhos, iniciando pelo Alto da Capela branco e tinto, feito com uvas mais importantes do Alentejo: Arinto e Fernão Pires para o branco estagiando em cuba de inox e na garrafa. É um vinho mais frutado, fácil, sem muita estrutura no paladar.
O Alto da Capela tinto já tem um teor alcoólico em torno dos 14% que é significativo para um vinho alentejano, mas que contém sua característica frutada lembrando ameixa, groselha preta, alcaçuz. Com paladar redondo e elegante.
Passando para família Folha do Meio temos o branco colheita, que também é feito com as uvas Arinto e Fernão Pires, com um envelhecimento mais prolongado na garrafa. A colheita em Portugal se inicia no final de agosto e início de setembro, sendo lançado no mercado somente nos meses de junho e julho do ano seguinte. O Folha do Meio Reserva Branco, além da Arinto e Fernão Pires, teremos a Roupero, que dá toda a estrutura e corpo ao vinho. Possui um estágio de seis meses em barris de carvalho francês e americano. O Folha do Meio Reserva branco terá uma cor dourada, com muita fruta e acidez equilibrada.
Folha do Meio Colheita tinto é um blend de três castas: Aragonês, Trincadeira e Alicante Boushet. É um vinho que estagiou nove meses em inox e um ano na garrafa. Folha do Meio Reserva e Gran Reserva Tinto são feitos com as mesmas castas: Aragonês, Alicante Boushet, Syrah e Touriga Nacional. O que diferencia o Reserva e o Gran Reserva é que o primeiro estagia em barricas usadas de dois a três anos durante um ano. Depois vai amadurecer mais um ano na garrafa antes de ser lançado ao mercado.
O Gran Reserva estagia um ano e meio na barrica francesa e só depois de dois anos e meio é lançado no mercado. O Folha do Meio Gran Reserva começou a ser produzido há aproximadamente dez anos. E desde então só foi lançado no mercado três safras. A última foi em 2017. Os vinhos da Folha do Meio são importados para o Brasil pela Adega Monjolo e são entregues em todo o território nacional. Santé!
Wallace Neves
- Melhor Sommelier do Brasil,
Embaixador dos Vinhos do Alentejo,
Consultor em Vinhos, Palestrante
e Wine Educator.
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