“A contradição está no fato de que ninguém está mais disposto a pagar por informação qualificada”
Por Cezar Honório Teixeira
Fotos Divulgação
Na segunda quinzena de novembro deste 2022 que chega ao fim, uma reportagem publicada pelo jornal Valor Econômico revelou que 44% dos recém graduados se arrependem do curso que escolheram para a conclusão do ensino superior. O índice de
arrependimento é absurdamente maior nos formados em cursos relacionados às ciências humanas.
Segundo a pesquisa conduzida pela plataforma de seleção ZipRecruiter e que ouviu mais de 1.500 graduados à procura de emprego, o percentual de arrependimento chega a 87% nos graduados em jornalismo, 72% nos que fizeram sociologia e os mesmos 72% entre os ex-alunos de artes. Na outra ponta, a das ciências exatas, 72% dos graduados em ciências da computação repetiriam a escolha. Em criminologia (72%) e engenharia (71%) o percentual de satisfação com a empregabilidade proporcionada pela formação acadêmica também é praticamente a mesma.
Como jornalista por formação, posso afirmar que a crise no modelo de negócio dos veículos de comunicação iniciada no início dos anos 2000 é o principal fator para o arrependimento dos graduados em comunicação social.
A cultura da informação gratuita difundida pelas plataformas on-line a partir da internet provocou uma quebradeira geral das empresas de comunicação. Especialmente dos veículos impressos cujo custo de produção é maior e a velocidade de edição menor. Na prática, a empregabilidade nas redações convencionais minguou e junto com o número de vagas também caiu a média salarial de repórteres, editores, cinegrafistas, etc.
A questão é que o enfraquecimento do jornalismo profissional ocorre ao mesmo tempo em que aumenta de forma exponencial a desinformação por meio do fenômeno das fake news. Especialmente em tempos de polarização política. Um cenário que merece reflexão por parte da sociedade na medida em que os veículos profissionais de mídia continuam sendo a única fonte minimamente segura quando estamos diante de uma avalanche de desinformação despejada via canais digitais.
Em bom português, quando a coisa aperta todos correm para algum veículo ou profissional de imprensa para garantir um mínimo de segurança na informação. A contradição está no fato de que ninguém está mais disposto a pagar por informação qualificada. As exige de graça. Os 87% de insatisfação dos graduados em jornalismo é a ponta deste iceberg submerso neste mar de notícias falsas. Mas o risco é de toda a sociedade que finge não ver o desastre em curso. É por estas e outras que está aí mais um desafio para o Brasil enquanto projeto de nação autossustentável tanto econômica quanto intelectualmente. O certo é que não alcançaremos os objetivos matemáticos projetados pelo sistema econômico sem a subjetividade e flexibilidade das ciências humanas.
Isto nunca aconteceu em nenhum momento da história e em nenhum lugar deste planeta dominado pela raça humana. Se o caminho para o futuro sempre passou e passará pela inovação, a partir do alicerce das informações qualificadas, é bom considerarmos o futuro a partir de um desenvolvimento multidisciplinar equilibrando a motivação de filósofos e sociólogos aos níveis dos engenheiros e cientistas computacionais.
Uma questão de política pública a ser considerada por quem tem a caneta nas mãos
e um verdadeiro senso patriótico. Não há outro caminho que não passe pelo investimento massivo em educação alinhado a estratégias para contemplar a diversidade das carreiras profissionais nos eixos das humanas, exatas e ciências biológicas. Ou há?
Cezar Honório Teixeira - jornalista, consultor especializado em gestão
de imagem empresarial e autor de “A Arte do Desapego”.
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