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Foto do escritorPalmira Ribeiro

Desafios e oportunidades para o agronegócio

O agro nacional alimenta 800 milhões de pessoas, 10% da população mundial.


Por Hélio Mendes e Luiz Bittencourt

Fotos Divulgação


O mundo passa por um processo de desaceleração econômica, com relevante poder de retração, porém uma de suas principais causas foi transformada em tabu e é constantemente banida das análises: o desordenado e incontrolável crescimento populacional, descontrole que desorganiza as atividades econômicas e derrete as perspectivas de geração de emprego, de moradia e de alimentação.


A dimensão da dificuldade pode ser medida pela população mundial, que se mantém em contínuo crescimento e hoje é estimada em cerca de 8 bilhões de habitantes. De acordo com estudo da Organização das Nações Unidas - ONU, a taxa atual de crescimento populacional permite prever, para 2050, curto espaço de 28 anos, a população mundial se aproximando dos 10 bilhões de habitantes. De todas as demandas que essa expectativa de aumento em 2 bilhões de pessoas pode causar, uma é insubstituível: a alimentação. Enquanto a causa permanecer blindada, a alimentação de todo esse contingente é o desafio do agronegócio.


O setor brasileiro tem se mostrado competente no trato desse desafio. O agro nacional vem apresentando contínuo crescimento de seu PIB, culminando com a participação de 27,4% no PIB brasileiro de 2021 (maior contribuição desde 2004) e trajetória a sugerir 30%, no curto prazo. Essa participação resulta do ganho na produtividade brasileira pela revolução implementada no campo, o que vem permitindo o agro nacional alimentar 800 milhões de pessoas, 10% da população mundial. A competitividade do agro nacional estimula crescentes demandas do mercado internacional.


No primeiro semestre deste ano, por exemplo, as exportações do agronegócio representaram 48% das exportações brasileiras, alcançando a marca recorde de US$ 79 bilhões no período (o Brasil exportou US$ 164 bilhões). Os líderes do agro nacional no mercado global são soja e carne bovina, alavancados pela demanda chinesa. O complexo soja manteve, no período, a liderança no faturamento (US$ 30 bilhões) das exportações do agro, garantido pelo preço recorde da matéria-prima no mercado internacional, em que pese a queda nos embarques, especialmente para a China, pelo segundo ano consecutivo.


Já as exportações de carne bovina no primeiro semestre de 2022 atenderam 132 países, alcançaram US$ 6 bilhões, dos quais 58% para a China, seguida de EUA e União Europeia.

Há fortes sinalizações de que o céu de brigadeiro, delineado pela economia dos nossos principais parceiros comerciais, ganhe temporárias turbulências. A China, segunda economia global, maior parceiro comercial do Brasil e do agronegócio brasileiro, desacelera seu desenvolvimento reduzindo sua taxa de crescimento para a faixa de 3% a 5%, com perspectiva de diminuir, em cerca de 19%, sua demanda pela carne bovina brasileira.


A União Europeia, segundo parceiro comercial do Brasil, enfrenta queda do PIB, recorde nos estoques da indústria, interrupções no fornecimento do gás russo, com consequências inflacionárias e elevação nas taxas de juros, aumentando a probabilidade de recessão. Os Estados Unidos, primeira economia global e terceiro parceiro comercial do Brasil, enfrenta, com baixa eficiência, problemas inflacionários sinalizando também recessão econômica.


Não resta a menor dúvida de que a expectativa de crise já constrói um novo cenário com impactos no consumo e consequências, em curto prazo, para a cadeia produtiva. Ainda que o Brasil tenha se antecipado no controle da inflação, apresente crescimento acima da expectativa, entregue desempenho positivo nas contas públicas, reduz a taxa de desemprego e sinaliza para crescimento do PIB, a possibilidade de recessão em seus principais parceiros comerciais exige profunda reflexão e revisão nos planejamentos dos diversos setores que compõem o agronegócio nacional. As perspectivas preocupam, mas os desafios e as oportunidades podem convergir nos limites do planejamento.

Hélio Mendes - Consultor de Estratégia e Gestão, professor da Associação dos Diplomados da Escola Superior de Guerra, com curso de Negociação pela University of Michigan, Gestão Estratégica pela University of Copenhagen e Fundamentos Estratégicos pela University

of Virginia.



Luiz Bittencourt - Engenheiro - UFF/RJ, Master of Engineering - McGill University/Canada, Comércio Exterior - Universidade Mackenzie /SP.

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