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Foto do escritorMariana Palermo

Agro é negócio!

“Seremos sempre o celeiro, a indústria e o fomento para o mundo todo”.


Por Fernando Barbosa de Sousa

Fotos Marcelo Casal Jr | Sérgio Souza - Pexels |

Mark Stebnicki - Pexels | Daniela Constantini -Pexels

Cottonbro - Pexels | Chevanon Photography - Pexels



No Brasil, os dados revelam que entre 26% do nosso PIB, no ano de 2020, é proveniente do agronegócio. Isso não é pouco! Só nesse ano a cifra beira os 2 trilhões de reais, ante um PIB total do país que chegará a 7,7 trilhões. É importante também traduzirmos que agronegócio não é apenas agricultura, mas sim toda a cadeia da pecuária, das florestas que abastecem indústrias diversas, dando ao agronegócio uma dimensão seguramente incalculável. Pense em uma cadeia que inclui agricultura, pecuária, agroindústria e agrosserviços. Para entendermos melhor que, se o campo vai mal, todos nós podemos ir mal também, é importante visitar alguns dados que dão contornos e forma ao que significa, na prática, o agronegócio. Vamos lá? Da sala ao closet, do jardim ao quintal, no quarto, no banheiro, no almoço, no café ou no jantar, de norte a sul, capital ou interior… se olhar à sua volta, pelo menos 95% de tudo é parte do agronegócio. Pense ainda no óleo de cozinha, um mix de diversos grãos industrializados; na roupa cujo tecido se originou lá no campo de algodão; aquela escapada para a balada em quase sua totalidade é movimentada pelo combustível etanol, produto da cana-de-açúcar ou mesmo as gigantes pickups com o biodiesel a alimentá-las.


Daria um livro discorrer-se sobre tudo que tocamos, consumimos, utilizamos e que têm origem nessa atividade tão brasileira que até já foi sinônimo de atraso, pois éramos os patinhos feios da economia mundial justamente por essa vocação tão desconhecida da maior parte da população urbana quanto estigmatizada também por grande parte de nós. O valor inestimável desse setor para nós pode ser muito bem ilustrado quando comparamos somente a área de preservação permanente exigida por lei para todo território produtivo e que equivale simplesmente a dez países europeus.



Nesse momento nos preparamos para planejar o plantio da próxima grande safra de grãos. O alimento de bilhões de habitantes do planeta sairá de nossas lavouras. Já há uma previsão fantástica de alcançarmos 300 milhões de sacas na safra 2021/2022. Um salto qualitativo e quantitativo sem precedentes. Sim, nós sabemos produzir como ninguém no planeta. Isso é grandioso porque, a despeito do que se propaga quando um desastre natural é aquilatado como uma‘irresponsabilidade’ do produtor brasileiro, na verdade damos lições de competência, quando utilizamos apenas 7,8% de todo nosso território com agricultura e compararmos, por exemplo, com os Estados Unidos, onde 17,4% do território é ocupado para esse fim, e desta forma somos segundo maior produtor de alimentos do mundo. Somemos à nossa fabulosa safra a produção diária de hortigranjeiros de onde saem 12 milhões de toneladas de produtos como o tomate, a alface, a couve, mandioca, inhame, etc, que abastecem nossos lares. Dia após dia, vamos à padaria e de lá abarrotamos nossa despensa com produtos feitos com ovos e inúmeros derivados da agricultura, como farinhas, aveia, cevada, ..., temos nossas frutas e sucos, grande exemplo de valor que é exportado para os exigentes consumidores europeus. Não perca a conta e some aí as florestas de pinus, eucaliptos, tecas, seringais, entre outras, cujo produto garante a construção de residências, escritórios, hospitais, móveis e uma infinidade de derivados.



E os números são assim, exponenciais em sua essência. Temos 5 milhões de propriedades, 350 milhões de hectares (cada hectare tem 10.000 metros quadrados), 2 milhões de tratores e máquinas agrícolas, perto de 200 milhões de cabeças de gado bovino, 1,5 bilhão de cabeças de aves, 40 milhões de suínos, outras 17 milhões de ovinos e caprinos, uma produção de 35 bilhões de litros de leite de vaca. Podemos expressar um Ufa! para números tao grandiosos. Mas, e sempre há um mas, todo esse enorme movimento financeiro e empregatício, gerando 16 milhões de empregos em toda a cadeia, sem contar os proprietários rurais e seus parentes que somam cerca de 10 milhões de pessoas, soma simplesmente 38% de toda a força empregada no país (MAPA), contribuindo com um seu esforço diário para que tudo isso aconteça. Nos dias atuais o produtor está às voltas com um sem número de atividades - no que chamamos ‘dentro da porteira’ e precisa cuidar muito bem da comercialização de suas safras. A mídia noticia diariamente as altas nos preços das comodities e isso gera a falsa sensação de uma riqueza sem fim nos bolsos e patrimônio dos agropecuaristas brasileiros. Entretanto, há um fator que está presente em todas as empresas - o custo. E nessa seara o produtor tem sempre algumas surpresas. Seja o dólar variando e impactando nos preços dos insumos, seja o mercado internacional que dita os preços da nossa produção pela larga escala de exportações.


Nos últimos dias o clima virou motivo de preocupação aos produtores do agronegócio brasileiro. A ameaça de geadas em algumas regiões traz à tona uma preocupação que volta a cada safra, pois provoca perdas de produção, estamos tratando de uma indústria a céu aberto. E perdas prejudicam a parte da economia que literalmente carrega o Brasil nas costas. Essa perda, porém, também é sentida na mesa de qualquer lar brasileiro e de várias partes do mundo, por que não? Esse é um dos lados críticos do setor e a situação dramática com contornos de escassez e até falta de produtos, pode ser minimizada se houver a introdução de práticas já testadas em outras regiões, como nos EUA, onde mantas tecnicamente viáveis reduzem esses efeitos. Estamos na vanguarda de quase tudo no que se refere à tecnologia para a produção de alimentos. Entre drones, genética avançada, nanotecnologia e biotecnologia o começo de uma nova era está a um palmo de cada grande região metropolitana. Tudo aqui é mais. E podemos ainda mais.


Mundo com fome, mas com recursos

O movimento mais dramático tem vindo nos últimos 30 anos, principalmente da China, cuja população vivia até então essencialmente no campo e tem, aos poucos, sido atraída para os milhares de indústrias que produzem de tudo. Se por um lado o salário é um fator competitivo gerando mão de obra barata ao país asiático, qualquer valor que se pague e gere renda ao trabalhador chinês é imediatamente transformado em consumo. Nesse ponto, a China não é autossuficiente para alimentar tantas famílias. E assim, grande parte do que consomem saem daqui fruto do nosso agronegócio. Qualquer movimento brusco do grande cliente sempre nos trará dores de cabeça. Do lado de cá dessa fronteira o agronegócio brasileiro está cada vez mais profissionalizado, desde a contratação de mão de obra que exige hoje profissionais capacitados e em contínuo aprendizado, até a gestão das fazendas e propriedades não pode ser mais ‘tocada’, mas sim administrada, e com muita competência.


Dados e números em constante mutação estão nos laptops e desktops nos escritórios com ares de urbanidade e uma parafernália de sistemas se interligam para gerar mais assertividade na tomada de decisão do empresário rural. Para que todo esse enredo nos mostre inúmeros finais felizes surgem soluções tecnológicas em todas as áreas das propriedades produtoras. Mapas meteorológicos e sensores de última geração garantem cuidado com as chuvas, nem mais, nem menos e nas horas certas. Outra família desses mesmos sensores monitoram pragas e plantas daninhas, drones e máquinas já autônomas suprem a escassez de mão de obra no campo, além de melhor manejo por sua precisão programada. No campo da pecuária já temos formas de gerar conforto a vacas leiteiras com ambientes adequados, ordenhas (extração do leite) com máquinas robotizadas, cuja operação é muito adequada do que antigos ‘retireiros’, alimentação balanceada garante dietas adequadas às características animais. Aves e suínos têm um tratamento cada vez mais adequado e capaz de gerar conforto técnico e engordas também adaptadas às características dos animais. As informações mais recentes do Canal Agro nos mostram que simplesmente aumentando a conectividade no campo serão acrescentados 100 bilhões de reais ao faturamento total do agro brasileiro. Tudo isso tem seu preço, mas ele compensa para toda a sociedade que tem na base das prioridades fisiológicas a alimentação. Se apoiado pela população brasileira em sua maioria, pela mídia de massa e a especializada, pelas universidades na busca de soluções adequadas, de baixo custo e na pesquisa para melhoria contínua do processo produtivo, seremos sempre o celeiro, a indústria e o fomento para o mundo todo, desde que saibamos entender, enaltecer e construir uma sociedade que vive do agronegócio, mas ainda não entende seu papel.


Um futuro como presente

As perspectivas nos dão um doce sabor de olhar pra frente e esquecer da figura do Jeca Tatu que tanto nos denegriu até meados do século XX. A saber, teremos uma forte urbanização na África subsaariana com inevitável aumento de consumo, o crescimento do poder de compra da classe média em nível mundial, notadamente nos países asiáticos e ainda este mesmo crescimento projetado para o Brasil. Com isso, ou nos rendemos e juntamos força com o agronegócio brasileiro, ou o mundo cuidará disso por nós.


Fernando Barbosa de Sousa

Sócio Consultor Senior

Know How Consulting

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